Paula Gandin: referência em vegetarianismo
A alimentação saudável ainda é cercada de tabus e preconceitos, frutos da falta de informação que ainda existe sobre o assunto. E isso se intensifica quando o tema é vegetarianismo e veganismo. A ideia de que esse estilo de vida é coisa de gente hippie ou que comida natural é sinônimo de falta de sabor ainda persiste entre muitas pessoas.
Propagar um estilo de vida mais saudável e mudar essa imagem é uma das missões que a nutricionista Paula Gandin assumiu nos últimos anos. Referência no assunto, Paula é conselheira da Sociedade Vegetariana Brasileira e dá cursos e palestras em todo o país e no exterior sobre o tema.
Paula Gandin: nutricionista que é referência no Brasil
Ainda adolescente, a nutricionista decidiu eliminar o consumo de carne da sua vida. Embora tenha nascido no Rio Grande do Sul, que tem a população que mais consome carne vermelha no Brasil, ela diz que essa foi uma transição natural. “A primeira coisa que me fez despertar para isso foi a questão do abate de animais”, conta. A mudança ocorreu com tanta naturalidade, que as pessoas ao redor entenderam bem. “Logo no início, procurei uma orientação para me ajudar e depois resolvi fazer faculdade de nutrição”.
Os benefícios dessa transição, diz, foram sentidos instantaneamente e começou pela maneira como ela passou a olhar os alimentos. “A grande transformação foi o fato de ter aberto muito minha alimentação. Antes, eu achava que não gostava de muitas coisas e me coloquei na situação de questionar isso e experimentar”, lembra. A visão de que esse estilo de vida limita as escolhas alimentares é errada, na visão de Paula. “O vegetarianismo abre a possibilidade para você comer melhor, ingerir mais legumes, frutas e verduras, e ter passado por esse processo na adolescência foi muito importante, pois geralmente as pessoas mudam depois”.
Com essa nova visão, o corpo também passou a responder melhor. Depois dessa transição, a nutricionista recorda que houve uma melhora clara no sistema digestivo, que passou a trabalhar melhor, assim como o intestino. Quem nunca sentiu aquela sensação desagradável de estômago pesado após comer carne? Isso acontece porque a digestão acontece de forma mais lenta.
Paula Gandin explica que, independentemente do tipo de dieta, da mediterrânea à vegana, alimentação saudável significa investir em um cardápio rico em verduras, legumes e frutas. O segredo disso é saber preparar esses alimentos. Para ela, quem diz que não gosta de vegetais não sabe como prepará-los, o que faz com que fiquem sem gosto.
Tudo isso, acredita, ainda ocorre por falta de informação. “Essa é uma revolução que ainda está acontecendo. Há 20 anos, ninguém tinha arroz integral no restaurante, por exemplo”, observa. “Mas há quem pense ainda que esse é um arroz diferente e não entende que ele é o verdadeiro grão. É uma mudança que está acontecendo, graças à consciência que está aumentando. Afinal, os benefícios são imensos”.
Comer bem é tendência
Segundo Paula, a tendência é que aconteça no Brasil o mesmo que aconteceu nos Estados Unidos, nos últimos anos. À medida que a obesidade aumentou, também cresceu o interesse por uma alimentação saudável. “Hoje, você vai para os EUA e vê que a população está 20 anos à nossa frente também nesse quesito. Há muitas opções de restaurantes veganos, nos mercados há uma infinidade de produtos saudáveis e orgânicos”, conta. Paula diz que há estados no Brasil que recebem mais produtos industrializados do que vegetais. “Como lutar contra isso? É um desafio!”
No seu consultório, assim como nos workshops e palestras que dá, inclusive fora do país, algumas dúvidas são comuns entre quem deseja cortar o consumo de carne. Paula conta que a principal questão é sobre formas de substituir essa proteína. “Temos que desmitificar essa ideia de que só a proteína animal vale e ensinar como fazer a substituição de forma que supra essa necessidade do organismo”. Outros questionamentos sempre presentes são em relação às deficiências nutricionais e sobre como aliar essa nova forma de alimentação à atividade física.
Por meio da Sociedade Vegetariana Brasileira, da qual é conselheira, ela também promove cursos para profissionais da saúde. Recentemente, um workshop chamado “Como atender pacientes vegetarianos” reuniu mais de 350 profissionais da saúde, nutrólogos e nutricionistas, tanto no evento em São Paulo (SP) quanto no Rio de Janeiro (RJ). “Há 10 anos, quando comecei a me dedicar a esse público, as pessoas me diziam que eu não teria pacientes”, recorda. “Agora reunimos essa quantidade de pessoas interessadas no assunto e com o objetivo de ficarem aptas a dar um suporte a quem deseja fazer a transição. É a grande prova de como temos um público cada vez maior e interessado em uma vida mais saudável”.
Como parte dessa missão de popularizar o vegetarianismo e reduzir a imagem de que é difícil comer algo saboroso e saudável, Paula ainda é uma das sócias da franquia Maoz no Brasil, empresa holandesa de fast food vegana. A loja brasileira fica em um bairro central de São Paulo (SP) e surgiu da necessidade de mostrar que é possível fazer uma refeição na rua de forma saudável e sem sentir falta da carne.
No seu dia a dia, Paula prioriza o consumo de alimentos orgânicos de feiras e incentiva seus pacientes a fazer o mesmo. Ao fazer compras no mercado, ela tem uma preocupação extra que acha importante compartilhar. “Opto apenas por marcas que estão preocupadas com a forma de produção do alimento, com os mesmos valores que os meus, como é o caso da Jasmine. É importante demais ter essa praticidade, até porque não é todo mundo que vai fazer sua granola caseira, por exemplo. Mas o fundamental é que sejam empresas que ofereçam produtos de qualidade e compartilhem dessa filosofia.”