Chaves Lagarto: o chef que cozinha apenas o que cultiva
Criar pratos é uma arte que tem as primeiras pinceladas no cultivo dos alimentos e o gran finale no momento da degustação. Neste instante, beleza, cheiros e texturas se fundem em uma alquimia capaz de causar uma explosão no paladar. É na ânsia de produzir essa “transformação de sabores” que o chef Chaves Lagarto, de 35 anos, pisa na cozinha todos os dias.
Lagarto é um tipo raro nesse mundo em que o consumo alimentar está a uma prateleira de supermercado de distância. Produtos industrializados não fazem parte do seu vocabulário e ele apenas ingere o que cozinha. Sua consciência sobre esse modelo natural vem ainda da infância e tem sua avó como grande referência. “Quando penso em imagens e sabores ligados à infância, lembro-me da minha avó cozinhando. Ela tinha uma horta e produzia tudo o que a gente comia. Fazia desenhos de flores com massas em cima das tortas. Era uma cozinha artística, até conceitual para a época, na minha visão.”
Foi aos 12 anos, que Lagarto percebeu que também tinha tino para o negócio. Tudo começou ao decidir tirar a carne vermelha do cardápio. “Sempre fui uma criança que comia de tudo, que pedia por brócolis, mas nunca gostei da textura da carne. Quando comecei a ler livros e procurar informações na internet sobre alimentação saudável, vi que poderia viver sem ela.”
Mesmo assim, rejeita os rótulos de vegetariano ou vegano. É uma forma de não lidar com radicalismo, explica. “Se eu estiver na roça e me oferecem um queijo feito no curral e eu estiver afim, eu como. Ou se eu estiver em um lugar e tiver um mel natural, que não é aquele do mercado cheio de açúcar, eu vou experimentar”. Tanto que, o chef imagina que, se morasse no meio de uma floresta, seria caçador: “Eu não como o que está na prateleira do mercado, pois é esse sistema que está errado, para mim. O corpo não precisa dessa quantidade exorbitante de carne que essa galera está comendo”.
Sua filosofia, resume, é apenas buscar se alimentar de forma a se sentir bem, e isso exclui produtos industrializados. “Eu como o que pode gerar mais energia para o meu corpo. A comida e a vida estão totalmente ligadas, pois não existe movimento sem alimento.”
Nessa experimentação toda, o que ele não tem são certezas perenes ou qualquer ideia sobre seu prato favorito. “Sou muito de época e mudo muito com as estações do ano. Há um tempo, tudo que eu comia tinha banana, agora não aguento mais e estou amando os brotos. Gosto de criar, e o que tiver eu transformo, só não como bicho”.
E nem comida de restaurante. Lagarto se autointitula o rei da marmita. “São muitas questões em volta da comida de restaurante. Tenho que perguntar se o arroz é feito com manteiga ou se tem bacon no feijão, e essas coisas me irritam, até porque muita gente mente. Por isso, prefiro fazer minha comida e evitar esse debate”
A comida de Lagarto, diz ele, respeita a forma com que os indígenas cozinham: “apenas com o essencial”. “O que importa é apenas ter o ingrediente. O alimento vem da terra e ela é a nossa mãe. Para mim, quando estou cozinhando, estou me conectando com essa essência.”
Nem mesmo hábitos como ouvir música ou beber uma taça de vinho fazem parte de sua inspiração gastronômica. Um pouco por opção, outro tanto pelo ofício. Além de modelo, o chef cozinha sob encomenda, como convidado em restaurantes e eventos. “Seja em uma cozinha nos Jardins (bairro nobre de São Paulo) ou em uma fogueira no meio da floresta, cozinhar é simplesmente uma percepção de misturar os sabores e criar novos paladares. Para mim, basta um pilão.”
Embora já tenha tido um restaurante na Bahia por dois anos com um amigo, esse tipo de empreendimento não combina mais com seu estilo de vida e aspirações. O que ele quer, no momento, é fazer intervenções em outros restaurantes. “Quero ser convidado desses lugares e fazer uma noite minha, com a minha comida. Mas não quero ter um restaurante e ficar preso nisso. Não quero construir nada, apenas quero chegar e apresentar o meu estilo de comida em lugares diferentes. Meu desejo é ter liberdade”
Receita de risoto saudável
Confira a receita do risoto preparado pelo chef Lagarto:
Ingredientes:
- 100g de arroz Jasmine
- 150g de quinoa
- Folha de couve e de brócolis
- 2 cenouras
- 130g de tomate cereja
- Sal marinho
Modo de preparo:
Prepare o arroz misturado com a quinoa. Salteie, em um frigideira, as folhas de couve e de brócolis cortadas em tiras. Acrescente os tomates cereja, os temperos e, por fim, um fio de azeite. Rale as cenouras fininhas e misture para servir.
Rende 4 porções.