Comida da Gente: Rede de compras orgânicas colaborativas
Quando voltou ao Brasil, depois de 12 anos entre os Estados Unidos e a França, a carioca Tatiana Dutra sentiu uma grande frustração: não encontrava produtos orgânicos com facilidade nas gôndolas. “Eu estava mal acostumada, na França é mais fácil comprar produtos saudáveis no mercado”, conta. Para driblar a dificuldade, ela começou a montar o que chamou de mapa do orgânico, em que registrava pontos de venda e produtores.
Até que, em 2013, Tatiana conheceu William Welp, um produtor de tomates orgânicos que topou fechar uma venda se os pedidos compensassem. “Precisava viabilizar o deslocamento até a cidade do Rio de Janeiro. Fiz um post no Facebook e marquei todos os meus amigos”, lembra. Tatiana dava ali, ainda sem saber, os primeiros passos para a criação do Comida da Gente, uma rede de compras colaborativa, que participa do programa Jasmine Open Table.
Quando acionou os amigos que também procuravam orgânicos, a carioca sabia que a tática funcionaria. “Eu já trabalhava com tecnologia de rede, tinha conhecimento sobre esse tipo de comportamento”, comenta. E a iniciativa foi, de fato, um sucesso. Naquela ocasião, conseguiram fechar a primeira compra de mais de 20 quilos de tomates orgânicos. Em pouco tempo, os pedidos somavam cerca de 40 quilos por semana. Para não deixar a ideia morrer nem perder a rede criada, ela montou um grupo no Facebook com o marido. Convidaram amigos, que convidaram amigos – e assim a rede se estabeleceu.
Comida da Gente e a compra colaborativa
A criação do grupo no Facebook foi fundamental para espalhar a ideia e chamar a atenção de outros produtores. O próprio William acabou fazendo mais negócios. Apenas alguns meses depois do primeiro contato, ele viabilizou a compra por preço de atacado de um arroz orgânico biodinâmico. “Depois de uns seis meses, começamos a receber propostas de outros produtores, que vinham oferecer suas colheitas”, conta Tatiana.
Algumas pessoas de fora do Rio de Janeiro começaram a entrar no grupo de compra coletiva, mas a entrega em longas distâncias era complicada e muitas vezes inviável. Por isso, surgiram outros grupos do Comida da Gente localizados em diferentes cidades e até mesmo fora do Rio de Janeiro. Todos funcionam da mesma maneira: alguém cria uma lista de compra coletiva, os interessados vão acrescentando seus pedidos e alguns voluntários se encarregam de redistribuir os produtos.
“A dinâmica criada é muito importante, o consumidor é empoderado e tem acesso a itens frescos e o produtor consegue oferecer serviços mais dinâmicos e aumenta sua rede de distribuição”, argumenta Tatiana. Além disso, como a compra é feita em grande quantidade e de maneira direta, os preços são mais baixos.
Sem querer, o Comida da Gente acabou ainda resolvendo um importante problema de escoamento alimentar. Segundo Tatiana, os produtores rurais da região do Rio de Janeiro acabavam descartando o excedente de legumes e frutas. “Solucionamos esse problema de logística de um jeito colaborativo. Combinamos pontos de retiradas, alguns membros voluntários buscam e redistribuem para quem mora por perto, isso reduziu muito as sobras e o desperdício”, comenta.
Atualmente, são 25 grupos do Comida da Gente, em diferentes cidades e com tamanhos variados. Ao todo, são mais de 500 produtores e 38.000 membros. A maior concentração de pessoas ainda está na capital do Rio de Janeiro, no grupo originalmente criado por Tatiana, o marido e o produtor William. “Não fazemos o controle direito dessas comunidades, mas todas devem seguir as mesmas regras de comportamento”, comenta a criadora. Na prática, a moderação acaba sendo feita espontaneamente pelos próprios usuários.
Criação do marketplace colaborativo
Para melhorar a experiência e dar mais opções de compra e venda para o pessoal que integra o grupo, o Comida da Gente está em processo de criação de um marketplace. Atualmente, tudo é feito primordialmente dentro dos grupos do Facebook. Com o site, no entanto, os produtores terão acesso gratuito a uma página de perfil, onde poderão contar um pouco sobre sua história e colocar um catálogo com todos os seus produtos.
Além disso, a plataforma vai ser usada para deixar a dinâmica do grupo mais ágil, inteligente e eficaz. Uma pessoa que ficou responsável por fazer a retirada de uma compra, por exemplo, irá receber avisos automáticos de local e horário combinados. Por ora, a transição do Facebook para a plataforma está sendo feita de maneira gradativa, para não haver desgastes e ter os processos alinhados aos poucos.
Com o trabalho de mentoria do programa Jasmine Open Table, Tatiana espera estabelecer conhecimento para articular novas redes e aumentar o tamanho da comunidade. “Queremos aprender como acelerar nossa expansão geográfica de maneira sustentável, além de aumentar nossa rede de contato com empresas que trabalham com alimentação orgânica ou saudável para o desenvolvimento de parcerias”, explica. Além disso, o grupo pretende investir em estratégias de comunicação e marketing, para aumentar sua exposição na mídia.
Sobre o Jasmine Open Table
A Jasmine aposta na capacidade transformadora da alimentação saudável. Com o programa Jasmine Open Table, uma plataforma de aceleração para projetos inovadores, ela fomenta o desenvolvimento de produtos e de conteúdos que ajudem as pessoas a ter uma vida mais ativa, saudável e consciente. A primeira edição do programa teve 50 inscritos e nove projetos foram selecionados para participar das 12 semanas intensivas de mentoria, formuladas em parceria com a Corporate Garage.