Veganismo: um estilo de vida
O que leva as pessoas a despertarem para o veganismo? As razões são muitas e entender o processo de amadurecimento e tomada de decisão é uma das formas mais inspiradoras para escolher esse estilo de vida.
É o caso da influencer Sara Fachini, que mantém o perfil Come que Sara no Instagram e no YouTube. Em entrevista, com a equipe da Jasmine, ela nos contou um pouco mais sobre as suas escolhas alimentares e os benefícios que o veganismo trouxe para a saúde. Confira a live na íntegra e a entrevista transcrita logo abaixo.
1) O que te fez despertar para o veganismo?
A Nina, minha cachorrinha. Eu comia carne, tranquilamente, a minha vida inteira. De repente, eu comecei a questionar que, se eu tenho a minha cachorra, que eu amo e cuido, que “só falta falar”, por que os outros animais merecem menos do que isso? Comecei a pesquisar muito sobre o assunto, sobre alimentação vegetariana, veganismo, saúde, realmente me apaixonei pelo assunto – tanto que hoje esse universo maravilhoso é a minha profissão. Eu me formei em Direito e trabalhava como assessora jurídica, mas quando o projeto Come que Sara começou a nascer dentro de mim, todo o resto perdeu a graça. Eu precisava falar sobre tudo isso que eu estava descobrindo, eu sentia muita necessidade de compartilhar. Então eu fui preparando uma transição profissional e hoje, além do Come que Sara, estou lançando uma empresa de doces saudáveis, veganos e tudo de bom, chamada Saudável Soul. Me sinto muito mais realizada!
2) Como foi tomar a decisão de ser vegana?
Para a minha surpresa, acabou sendo super espontânea depois que comecei a pesquisar e me informar sobre os aspectos da produção da carne e derivados animais. Eu comecei a me sentir incomodada porque não queria mais ser causadora de nenhum sofrimento aos animais, que eu tanto amo.
3) Qual processo você seguiu para deixar de consumir produtos de origem animal?
Todas as carnes eu abdiquei com muita facilidade, incluindo mais grãos na minha alimentação. Os grãos (feijões, lentilha, ervilha, grão de bico, quinoa, etc) são as fontes de proteína na alimentação vegana.
Quanto aos derivados de animais (ovos e laticínios), essa parte exigiu mais preparo. Eu realmente só consegui retirá-los quando encontrei substituições. Essa é uma dica que eu sempre trago no meu canal do youtube e no instagram: esse é o grande segredo para quando queremos fazer qualquer tipo de alteração na alimentação, seja para adotar hábitos mais saudáveis, seja para retirar completamente os itens de origem animal do prato. Por exemplo, eu gostava muito de uma pizza com queijo, que era a minha comida favorita. Eu estava apegada, mas quando provei as pizzas veganas, que são incríveis e não devem nada à pizza com queijo que eu gostava, eu fiquei maravilhada! Isso tornou tudo muito fácil, eu não me sinto abrindo mão de nada, porque todos os alimentos tradicionais têm uma versão vegana que é incrível! Existe feijoada, hambúrguer, ceviche, sashimi veganos, enfim, tudo o que você puder imaginar! O ceviche e o sashimi, por exemplo, são feitos com a polpa do coco verde, que tem um sabor muito suave e textura parecida com peixe cru; com o tempero adequado, fica muito semelhante.
4) Quanto tempo demorou pra você parar de consumir carne por completo?
Eu acabei parando de consumir carne de uma vez, da noite pro dia. O meu plano inicial, era primeiro retirar a carne vermelha e carne de porco. Depois eu retiraria o frango e, então, o peixe e frutos do mar, mas, como eu estava apaixonada pelo assunto e super feliz, me dando bem nessa nova realidade, eu acabei parando com todas de uma vez, no dia 10 de dezembro de 2015.
Os laticínios que me deram um pouco mais de trabalho. Eu me tornei vegetariana em 2015. Pouco tempo depois, fiquei vegana ao longo de 1 ano. Porém eu acabei voltando a comer alguns laticínios e ovos de vez em quando, quando tinha algum evento com as minhas amigas e com a minha família. Mas, mesmo nesse período eu tinha muita vontade de voltar a ser vegana, só que eu não estava conseguindo. Três anos depois, eu consegui me organizar e realmente retirar os derivados de vez, e a melhor tática que eu encontrei foi aquela que eu mencionei acima: a substituição! Encontrei a versão vegana para a crepioca que eu fazia no meu dia-a-dia (que é o “grãomelete”, e é um sucesso no Come que Sara, os meus seguidores adoram; é feito com farinha de grão de bico no lugar do ovo), e passei a usar queijinhos veganos. Daí se tornou bem facinho! Amo de paixão a comida vegana, que não deixa nada a desejar quando comparada à tradicional.
5) Dos alimentos que você abdicou, tem algum que mais sentiu falta no início, sendo mais difícil se desvencilhar dele? Se sim, Qual?
Sim, feijoada e comida japonesa. Eu não comia com frequência, mas adorava essas duas comidas. Pouco tempo depois, quando eu fui desvendando o vegetarianismo, eu descobri que existem versões perfeitas veganas desses mesmos pratos. Daí ficou fácil, não sinto falta da versão anterior.
6) Sabemos que o veganismo vai além dos hábitos de alimentação. Ele também abrange o consumo de roupas e cosméticos. Sara, nos conte como você pesquisa os produtos que adquire… Como você se informa se eles de fato são livres de ingrediente e testagem animal?
Eu pesquiso bastante sobre os produtos que estão presentes na minha vida diária. Algumas marcas são as minhas queridinhas (como é o caso da Jasmine), que costumo chamar de “empresas com propósito”. Sempre busco aquelas que tenham uma política assumida de não abusividade com relação aos animais (cosméticos ou produtos de limpeza que não testam em animais, por exemplo; roupas ou calçados de marcas veganas).
Adoro ver esse movimento ético no mercado de consumo, que tem ganhado muita importância, voz e visibilidade. O consumidor está descobrindo que tem muito poder nas mãos. Se ele não quiser mais adquirir produtos que são abusivos para os animais e para o meio ambiente, as empresas vão se adequando para atender à nova demanda ética.
Depois de um tempo, você vai descobrindo direitinho quais marcas são veganas e quais são abusivas para os animais; isso resulta em fidelização às empresas éticas.
7) Qual é a sua dica para quem está iniciando a transição para o veganismo?
A minha dica é: procure conversar e trocar figurinhas com quem está nessa mesma vibe. É muito maravilhoso a gente se sentir parte de algo, sentirmos que não estamos sozinhos e que a nossa decisão faz todo sentido. Além disso, substitua! Converso com muitos seguidores do Come que Sara que ficam com medo de sentir falta, têm medo de estar abrindo mão de algo. Com as substituições, a transição para o veganismo se torna cheia de novidades e divertida! Além disso, a substituição te mostra que você não precisa abrir mão de nada, porque existe a versão vegana de tudo o que você imaginar! Quando você se torna vegano, a única coisa que você retira do prato é a crueldade.
Uma última dica: converse com quem mora junto com você, a sua família ou parceiro(a), exponha os seus motivos e peça compreensão. Fazer essa transição num ambiente acolhedor é muito mais fácil e delicioso!
8) Existe alguma receita (doce, prato, entrada) vegana que você mais gosta?
Amo estrogonofe de cogumelos e pizza veganos. No dia-a-dia, busco fazer a pizzinha na versão saudável, com massa de grãos (quinoa, por exemplo). Acredito que o segredo de uma boa alimentação está no equilíbrio, ou seja, basear a maior parte da nossa alimentação em frutas e vegetais, o que nos permite comer outras comidas que gostamos, não tão saudáveis, de vez em quando.
Doces: amo de paixão! Justamente por isso que estou desenvolvendo uma linha de doces saudáveis. Descobri que é possível termos saúde e bem-estar sem ter que abdicar dos docinhos que amamos!
9) É normal sentir mais “fome” quando se é adepto ao veganismo?
Eu acredito que é possível sentirmos mais fome na fase inicial de transição, em que ainda não descobrimos a quantidade de alimento ideal para o nosso corpo sem a carne, quando ainda não sabemos ao certo como deve ser a nova alimentação. Mas logo você nota quais são as suas necessidades. Ao retirar a carne do prato, por exemplo, você pode incluir uma ou duas conchas a mais de feijão. Esses grãos, por serem proteicos, mantêm a saciedade por mais tempo, e de forma muito mais leve, porque a carne exige muito da nossa digestão e do nosso organismo.
10) Em média, quantas são suas refeições diárias?
Em média quatro refeições – café-da-manhã, almoço, lanche da tarde e jantar.
Começo o dia com um suco verde ou, então, com limão espremido e água; Após, tomo café-da-manhã (sou dessas que sente fome de manhã, já o meu namorado, não).
Capricho no meu almoço, que é bem simples: arroz e feijão, salada e vegetais.
Sempre sinto fome à tarde, lá pelas 16:30 – costumo comer um bolinho integral, frutas e castanhas ou mingau de aveia com leite vegetal.
O meu jantar é sempre bem variado: tem dias que faço creminhos de legumes, às vezes alguma pastinha com vegetais e grãos. Nos finais de semana, alguma comidinha junkie: pizza ou cachorro quente veganos.
11) Estimativas apontam que 28% da população brasileira têm buscado comer menos carne. Por que você acha que isso tem acontecido?
O veganismo é uma revolução moral. Para o consumidor, não basta mais ter as suas necessidades atendidas, mas também é necessário que não sejam desrespeitados o meio ambiente e os direitos dos animais no atendimento das suas necessidades e escolhas. O mercado começa a, cada dia mais, exigir dos fornecedores uma ética na sua atuação, em todas as etapas da produção de alimentos. Acredito que as pessoas estão buscando comer menos carne porque atualmente temos informação sobre os malefícios da carne, tanto para a saúde, quanto para os animais e o planeta. A tendência é que o veganismo cresça cada vez mais. É essencial que ele cresça, porque senão não sobra planeta para os nossos descendentes.
12) Como você lida com familiares e amigos que em algumas vezes já “esqueceram” ou em algum momento criticaram sua conduta vegana?
Quando eu me tornei vegetariana, no início eu tinha um pouco de receio de demonstrar a minha posição e acabar sendo julgada ou ter que dar explicações. Mas aquela ideia, de não mais comer carne, estava me fazendo tanto sentido, alimentando tanto a minha alma, que eu fui deixando de lado completamente essa preocupação. Eu comecei a notar que as pessoas têm muita curiosidade sobre o assunto, e sempre me proponho a falar e explicar quando sou perguntada, com amorosidade e abertura.
Com relação à minha família, a minha mãe se tornou uma verdadeira expert em comida vegana e ela cozinha muito bem! Então é sempre uma alegria comer a comida vegana que ela faz. Tem até algumas receitas no Come que Sara que são dela. Quando tenho eventos familiares, acho que é uma boa ideia levar algum prato vegano, para lidar com o “esquecimento”. Levo um preparo para compartilhar e coloco na mesa. E posso revelar? As pessoas acham tão interessante e diferente, que é sempre o primeiro prato que acaba. Mas devo admitir que é muito gostoso quando o anfitrião me considera e reserva alguma opção vegana no evento, sem sinto acolhida.
Com relação às críticas à minha conduta vegana, sempre tem, mas hoje não faz muita diferença pra mim; porque me sinto tão feliz com essa minha escolha – que alimenta a minha alma todos os dias – que, quando há uma crítica externa, ela não encontra acomodação dentro de mim. Amo ser vegana e amo difundir essa filosofia de vida linda e humanitária que é o veganismo.