Menos desperdício de alimentos: projetos incentivam o consumo de vegetais “feios”
Vivemos em um mundo em que 108 milhões de pessoas convivem diariamente com a fome, segundo a ONU. Apenas no Brasil, 7 milhões não têm o que comer e, em 2,1 milhões de domicílios, pelo menos uma pessoa passou um dia inteiro sem comer por não ter condições financeiras para comprar um alimento. Esses são números que impressionam, mas algo ainda mais chocante faz parte desse contexto: não falta comida no mundo. O que ocorre é um excesso de desperdício de alimentos.
De acordo com a FAO (órgão das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), um terço do total de alimentos produzido no mundo inteiro é jogado fora. Uma redução desse desperdício seria capaz de salvar mais de 800 milhões de pessoas que correm risco de morte por desnutrição. E a mudança pode – e deve – fazer parte também da nossa rotina.
Projetos contra o desperdício de alimentos
Quem nunca descartou no mercado uma fruta por estar amassada ou um legume por ter um tamanho fora do padrão? Diariamente, toneladas de alimentos são jogadas no lixo, somente por serem considerados feios. Os produtos não estão estragados, apenas fogem do modelo estabelecido como o ideal para o consumo. Mas por que então não os consumimos?
É com o objetivo de minimizar o desperdício de alimentos ainda bons que instituições em todo o mundo têm desenvolvido projetos que incentivam o consumo dos alimentos “feios”. Um bom exemplo disso é a iniciativa lançada pela Loblaw, uma das maiores cadeias de supermercados do Canadá, que criou a linha No name Naturally Imperfect.
A ideia é vender produtos que seriam descartados por serem considerados fora do padrão estético por valores 30% mais baixos. “Nós nos importamos muito com a aparência dos alimentos, em vez de valorizar seu gosto. Uma vez descascada ou cortada, uma maçã feia é uma maçã como qualquer outra. Não dá para saber se ela tinha manchas ou estava deformada”, disse Ian Gordon, vice-presidente sênior da rede de supermercados, ao site The Greenest Post.
No ano passado, outra grande rede se rendeu a essa ideia: o Walmart lançou a linha “Eu sou Perfeita”. Presente em 300 unidades da rede no estado norte-americano da Flórida, o projeto vende variedades de batatas e maçãs que normalmente seriam descartadas por estarem fora do padrão do supermercado.
Projetos no Brasil
O Brasil está entre os dez países que mais desperdiçam alimento no mundo. Por dia, 41 toneladas vão para o lixo, enquanto 25 milhões de pessoas poderiam ser alimentadas. Desse total descartado, 10% ocorrem na fase da colheita, 50% no manuseio e transporte, 30% nas centrais de abastecimento e 10% em mercados e nas casas.
Diante desse contexto, é claro que não poderiam faltar projetos por aqui também para reduzir esses números. Um dos mais relevantes é o Comida Invisível, projeto de ação social que recupera o alimento próprio para consumo que é jogado no lixo todos os dias. Com isso, a ONG garante a destinação dos alimentos ainda próprios para consumo que perderam o valor comercial a pessoas em situação de vulnerabilidade social. A organização busca esses alimentos em entrepostos (CEAGESP, CEASAS), supermercados, feiras livres e indústrias alimentícias. Também propôs o Projeto de Lei 581/15, que visa o combate o desperdício de alimento na cidade de São Paulo.
Segundo a Agência Brasil, tramitam na Câmara dos Deputados quase 30 projetos de lei com esse mesmo objetivo. A maioria busca acabar com a punição civil e criminal de quem doa alimentos. Isso porque supermercados ou empresas distribuidoras podem ser responsabilizados caso doem algum produto que cause problemas de saúde à pessoa que o recebeu. Esse é um dos fatores que fazem com que ainda seja reduzido o número de doações de alimentos no país.